Monday, December 18, 2006
Auto-retrato
Certa vez me disseram:
- Menina, teu coração é velho.
Sofres como quem busca com angústia
remédio para toda uma vida. Amargamente.
Vejo em teus olhos, menina, toda luz.
Que olhos tristes tens, como poucos são.
Sofres de desalento, menina,
e como são sofridos teus rosários.
Que fizeram aos teus rosários, menina,
que não vejo neles o lusco-fusco que os outros da tua idade têm?
Sofres de desengano, menina...
Acaso sabes o que te molesta?
Tua dor é transparente,
e teu corpo branco não te deixa mentir.
Ah, menina, teu coração sereno!...
A dor alheia divides. Já a tua própria
não sabes como amenizar.
Que olhos tristes...
Rosários secos,
palavras de prata.
Guardas em teu confortante silêncio
a chave para adoçar o fel, alcançar o êxito.
Menina, teu coração é puro. E por isso
te sentes completamente afogada na melancolia de apenas ser.
Me encantaria ver-te sair da penumbra, da solidão.
Não te aborreças se não enxergarem em ti o real valor que tens.
...No fundo, sabes que o tens!
Menina, prepara-te para o mundo,
pois teu coração é velho, tua alma é branca,
mas disso o teu corpo não sabe.
Teu corpo é novo, menina,
e o mundo o espera. O mundo te espera.
Não te sintas angustiada.
Teu coração é velho, mas és tão somente
uma menina.
Respondi, então, como quem consente.
Disse tudo o que poderia ser dito, no espaço de um instante.
E ali estava o dito "confortante".
Doce silêncio...
Doce!
Silêncio.
Reunião
Thursday, September 14, 2006
Súbita queda
Como pôde, de repente,
apagar-se o brilho que existe
nos olhos?
Um mero segundo,
e tudo muda:
jaz ali, vítima do acaso,
corpo agora frio,
não mais livre pra voar.
A luz desvanesceu,
e na breve queda
veio o silêncio, a embalar
todo o sonho que ali acabou.
Para onde terão ido
as lembranças?
Mergulhos no azul,
toda a luz...
Injusta e subitamente
arrancados daquele que os construiu.
O mistério? a resposta?
Morte...
Tuesday, June 27, 2006
Agora vou-me
Sinto como se fosse embora. Agora, daqui a pouco, sei lá. Tá vazio. Em branco. Talvez cinza. Que nó na garganta... Desce quente a bebida, veloz e pesada como pedra, delírio, dor, saudade... Começo a sentir aquela paz. Isso, paz, por favor!
Ele vem me buscar.
Vou levá-los comigo para o eterno.
E a cada segundo pulsa mais devagar... mais e mais lentamente...
Vou-me embora. Sinto paz. Ele vem me buscar.
Vou levá-los comigo para o eterno.
Meus melhores. Meus amantes, passageiros, ou ficantes, traiçoeiros, amigos, companheiros, namorados, tão queridos; os levo comigo.
É O FIM.
Fim de uma vida.
Tuesday, June 20, 2006
onda...
Não tenho sabido o que escrever.
Mas hoje pensei sobre tantas coisas...
Depois transcrevo alguns desses pensamentos pra cá.
Agora eu preciso voar.
Tuesday, June 06, 2006
Para o mundo
Saturday, June 03, 2006
Thursday, June 01, 2006
A flor
Para os homens, a perda é sinônimo de tristeza, e por mais que saibam que "só a dor enobrece, e é grande, e é pura", como já dizia Bandeira, fazer dela uma virtude é, de fato, muito complicado. "Aprende a amá-la, que a amarás um dia", com razão disse o poeta. Se a rosa não sente dor ao ver a pétala que se vai, porque é que o homem sente tanta falta do que deixa de pertencê-lo ou estar com ele, algum dia? Parece que tudo tem um fim, senti-lo chegando é pura tristeza. Resta-nos aprender a amá-la... a amaremos um dia. O fim é triste, dói tanto notá-lo...
Perder o que se ama é como ver a pétala cair. E deixar de ter alguém tão importante é como a queda de todas as pétalas...
(8) Los Hermanos - Retrato pra Iaiá
Tuesday, May 30, 2006
Que tu revivas
O tempo vem, não volta e deixa saudades... Restam lembranças que transcorrem-me a mente a cada segundo, assombram-me e parecem tão distantes, tal qual o plistoceno ao mais moderno dos homens. Pensamentos incessantes, que inebriam-me a alma e apertam-me o peito na mais cruel das dores.
Em mim estará eternamente gravada a imagem de cada momento. O primeiro e mais especial dos beijos que me deste tu, o maior dos meus amores, o causador do pleníssimo sentimento, como o mais divertido sofrimento. Te tive um dia, e de cada parte disso compõem-se as minhas mais belas lembranças.
Injusto futuro feito de incertezas! Mata-me a saudade do calor que só tu pudeste fazer-me sentir. Me sufoca a vontade de possuir-te de novo. Desfrutar do mesmo prazeroso sofrimento que me faz tão bem... Reacender o que está morto em minha memória. E ter cada vez mais boas lembranças, que fiquem para sempre.
O tempo vem, não volta e deixa saudades. E tu, meu amor, tu és como o tempo. Porém espero ansiosamente pela tua volta, deixes de ser memória e voltes. Assombre-me, inebrie-me, me faça sofrer, me faça sentir... Intensidade, força, gozo; faça-me, amor, faça-me amar! Só não deixes-me nessa saudade do tempo que não mais volta...
(8) Los Hermanos - Casa Pré-Fabricada
Ao mais querido
A você, o meu silêncio.
E quem é que um dia poderia entender?
Já não importa. É a você. Só pra você o meu silêncio.
Dedico-lhe esse espaço em branco, com a mais bela das mensagens, quando o desejo ultrapassa as barreiras da fala.
E quem merece? Quem poderia merecer?
Só você.
As palavras não fariam jus a tanta admiração.
Se fora a outro, meu tão querido,
se fora a outro, algumas frases poderiam até mesmo ser mais que o necessário.
Um amor que não teve a chance de começar, e que ainda assim não acabará nunca.
A chance de começar não teve, em vez dela veio outra, com força.
A oportunidade de tentar entender. Por quê?
Eu não entendo. A você, o meu silêncio...
Agora seria capaz de me ouvir?
Monday, May 29, 2006
Da difícil arte
Então, como sempre, a solução é falar de amor. Solução pra tudo, desde tristeza até falta de assunto.
O velho amor, velho e clichê demais. O mais antigo sentimento, e o mais sincero também, até hoje. Não se desgasta, continua bonito, profundo... Não muda.
Do Lado De Dentro
Por mais estranho que possa parecer, às vezes eu me sinto como se estivesse bem no meio de uma grande multidão, e ainda assim sozinha. Não é uma sensação boa, olhar pro lado quando mais se precisa, e ver que lá restaram tão poucos, entre tantos que já nem se importam mais. Esses têm um valor indescritível, e poder contar com eles é realmente gratificante, embora complicado... Ainda mais quando se é uma pessoa de tantos pensamentos diferentes, que se misturam e resultam em outros completamente incomuns, difíceis de serem aceitos. É como tentar entender por que diabos alguém vai gostar de "Anna Julia" depois de "Sentimental" ter sido escrita. É procurar consolar quem acabou de perder um amor. Tentar transformar num sorriso, lágrimas sofridas... Entender o que se passa na cabeça que de quem pensa dessa forma é uma tarefa complicada, e eu sei que sim. Mas não é impossível. E quem sofre calado acaba levando culpa pela sua própria dor! Isso muitas vezes é atribuído a uma suposta timidez, ou falta de conforto para contar aos outros o que se passa.
Hum, o nome disso na realidade é falta de oportunidade...
Acho que as pessoas deveriam começar a pensar bem antes de dizer... "conte comigo".
(8) Los Hermanos - Último Romance